Nosso Deus aparentemente é o Único que dá perus com benevolência e caprichosamente os tira. Quando os dá, sinaliza o interesse e o prazer que tem em nós. Sentimo-nos próximos de Deus e
somos incitados à generosidade. Quando os tira, sinaliza o desprazer e a rejeição. Sentimo-nos repudiados por Deus. Ele é volúvel, imprevisível, excêntrico. Firma-nos apenas para nos decepcionar.
Lembra-se de nossos pecados do passado e retalia arrancando os perus de saúde, riqueza, paz interior, progenitura, império, sucesso e alegria. Assim, inadvertidamente, projetamos em Deus as atitudes e os sentimentos que nutrimos por nós mesmos. Como Blaise Pascal escreveu: "Deus fez o homem a sua imagem e semelhança, e o homem retribuiu a gentileza". Portanto, se nos detestamos, tomamos por certo que Deus sente o mesmo por nós.
Mas, não podemos pressupor que ele sinta por nós o mesmo que sentimos por nós mesmos — a menos que nos amemos compassiva, intensa e livremente.
Na forma humana, Jesus nos revelou como Deus é. Ele expôs nossas projeções como idolatria e nos ofereceu um caminho para nos libertarmos delas. É necessária uma profunda conversão para aceitar
que Deus é inflexivelmente terno e compassivo conosco da maneira como somos — não a despeito de nossos pecados e culpas (isso não seria aceitação total), mas com elas. Apesar de Deus não tolerar, ou sancionar o mal, ele não retém seu amor por nós devido à nossa maldade.
Por causa da forma como nos sentimos a nosso próprio respeito, às vezes é difícil acreditar nisso. "Não conseguimos aceitar o amor de outro ser humano quando não nos amamos, e muito menos que Deus possa nos amar".
O pesar de Deus reside no medo que temos dele, da vida e de nós mesmos. Ele se angustia por causa de nossa autodedicação e de nossa autosuficiência.
Richard Foster escreveu: "Hoje, o coração de Deus é uma ferida aberta de amor. Ele sofre muito por causa de nossa distância e preocupação. Lamenta-se por não nos aproximarmos dele. Ressente-se de
o termos esquecido. Pranteia por causa de nossa obsessão por grandeza e abundância. Ele anseia por nossa presença".
Deus se entristece com nossa recusa de nos aproximarmos dele quando pecamos e falhamos. Um "escorregão" para um alcoólatra é uma experiência aterrorizante. A obsessão da mente e do corpo por bebida volta com a fúria selvagem de uma tempestade repentina.
Uma coisa é se sentir amado por Deus quando a vida está completa e todos os nossos sistemas de apoio estão no lugar. A auto-aceitação é relativamente fácil. Podemos até afirmar que estamos no caminho de gostar de nós mesmos. Quando estamos fortes, no topo, no controle e, como dizem os Celts, "em ótima forma", o senso de segurança se cristaliza.
Mas, o que acontece quando a vida cai em meio às rachaduras? Quando pecamos e falhamos, quando os sonhos se despedaçam, os investimentos estão em queda, quando somos tratados com desconfiança? O que acontece quando estamos face a face com a condição humana? repentina.
Thomas Merton responde:"Resigne-se de sua insuficiência e reconheça sua insignificância para o Senhor. Quer você entenda isso, ou não, Deus o ama, está presente em você, vive em você, habita em você, chama você, salva você e lhe oferece entendimento e compaixão que não se compara a nada que você algum dia tenha encontrado num livro ou ouvido num sermão".
Deus nos chama a pararmos de nos esconder e, abertamente, nos aproximarmos dele. Deus é o pai que correu na direção de seu filho pródigo quando ele voltou para casa mancando. Deus pranteia por nós quando a vergonha e o detestar-se nos imobilizam.
Deus ama quem de fato somos — quer gostemos disso ou não. Ele nos chama, como chamou Adão, a sair do esconderijo. Nenhuma quantidade de maquiagem espiritual pode nos tornar mais presentáveis
a ele. Como Merton disse: "A razão pela qual jamais adentramos a realidade mais profunda de nosso relacionamento com Deus é que raramente reconhecemos nossa completa insignificância perante ele". Seu amor, que nos chamou à existência, nos chama a abandonar o autodesprezo e a tomar parte de sua verdade.
David Seamands escreveu: "Muitos cristãos... encontram-se derrotados pela maior arma psicológica que Satanás usa contra eles. Essa arma tem a eficácia de um míssil mortal. Seu nome? Baixa auto-estima. Essa arma de Satanás provoca um sentimento visceral de inferioridade, inadequação e insignificância. Tal sentimento agrilhoa muitos cristãos, a despeito das maravilhosas experiências espirituais e do conhecimento da Palavra de Deus. Apesar de entenderem sua posição como filhos e filhas de Deus, estão atados, presos por um terrível sentimento de inferioridade e acorrentados a uma profunda sensação de indignidade.
Henri Nouwen: "A autorejeição é o maior inimigo da vida espiritual porque contradiz a voz sagrada que nos chama de "amados". Ser o amado constitui a verdade essencial de nossa existência".
Thomas Merton, o mais solicitado guia espiritual de nosso tempo, um dia disse a um colega monge: "Se eu conseguir algo pelo fato de ser Thomas Merton, estou morto. E se você conseguir algo pelo fato de ser o responsável pelo chiqueiro, você está morto". A solução de Merton? "Pare, de uma vez por todas, de marcar pontos e renda-se, com toda sua pecaminosidade, a Deus, que não vê os pontos nem quem os marca, mas somente o filho redimido por Cristo".
Como Dietrich Bonhoeffer disse, a culpa é um ídolo. Mas, quando ousamos viver como homens e mulheres perdoados, nos reunimos aos curadores feridos e chegamos mais perto de nosso Mestre Jesus. econclui que a graça e a cura são transmitidas por meio da vulnerabilidade de homens e mulheres que foram atropelados pela vida e tiveram o coração rasgado. A serviço do Amor, apenas os soldados feridos podem se alistar.
Minha jornada me ensinou que apenas quando me sinto seguro com Deus, sinto-me de fato seguro comigo. Confiar no Aba, que correu para seu filho obstinado, sem questioná-lo, nos capacita a confiar em nossa essência.
A decisão de sair do esconderijo é um rito de iniciação dentro do ministério terapêutico de Jesus Cristo. Isso produz autogratificação.
Permanecemos na Verdade que nos liberta, e vivemos da Realidade que nos faz inteiros.
George Bernanos em Diary of a country priest [Diário de um sacerdote interiorano]:"Agora, tudo chegou ao fim. A singular desconfiança que tinha de mim mesmo, de meu ser, desapareceu, eu creio, para sempre.
Esse conflito terminou. Reconciliei-me comigo, com a mediocridade, minha aparência pobre. Como é fácil se detestar! A verdadeira graça está no esquecimento; e, se o orgulho pudesse morrer dentro
de nós, a graça suprema seria amar a si mesmo com toda a simplicidade que se amaria qualquer membro do Corpo de Cristo. O que isso realmente significa? A graça está em todo lugar".
(Retirado do livro "O impostor que vive em mim" de Brennan Manning - 1° Capítulo)
A Graça e a Paz do Senhor Jesus.
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